terça-feira, 20 de setembro de 2011

Cantiga à Moda Antiga


À Daniela Versieux

I


A poesia não destingue:
Dá-se bem com qualquer tema,
Seja ele coisa simples,
Seja ele um dilema.

Pode ser sobre o amor,
Viagens ou natureza,
Sobre a ira ou inveja,
Até sobre a beleza.

O tema é o caminho
Escolhido a trilhar.
Saber por onde se vai
Ajuda a começar.


II


O molde é um forma
De estruturar a estética.
Definindo-se em um corpo
Onde vai sua poética!

Há quadras e redondilhas,
Odes, trovas e haikais,
Poesias, poemas, baladas,
Sonetos e outros mais.

Escolha o que lhe agrada
E entenda como é feito,
Pois quem escreve poesias
As escreve com efeito!


III


Se esta arte tiver uma alma,
Nas palavras ela mora.
Escolha-as com cuidado,
 Muita calma e sem demora.

As palavras são curingas,
Lembra bem um carteado:
Dependendo da junção
Mudam de significado!

Quando assim se comportam
De metáforas as chamamos:
Palavras criam imagens
Ou mesmo os sons que cantamos.


IV


Quem sustenta a armação
É conhecido por verso,
Assim é a gravidade
Sustentando o universo.

A cria pode ser livre
Ou mesmo metrificada.
Quem escolhe é você
Durante a empreitada.

Pode ter a extensão
Que você determinar.
Seja sábio ao quebrá-lo
E prudente ao parar!


V


Outrora como irmãs,
Hoje andam separadas?
Cadência e poesia
Já andaram de mãos dadas:

Palavras perfeitas pulam
Às mãos macias do autor
Como cristal colorido
Reflete seu resplendor.

Muitos recursos dão ritmos.
Outros... não. São bem mais fortes:
São as pausas do versado.
Experimente esses cortes.


VI


Há rimas pobres e ricas,
Com palavras cruzadas,
Masculinas ou inversas,
Toantes ou coroadas...

A rima impõe um ritmo
Além do já existente.
Palavra imagem som:
Efeito polivalente!

Há quem rime no final
O que é o mais comum.
Mas O Corvo do Edgar
Não é para qualquer um!


VII


Tudo isso que foi posto
Na verdade não é nada:
Há muito mais a ser visto
Sobre esta arte mui versada.

O básico já foi dito,
Até exemplificado!
Cabe agora ao leitor
Buscar o significado.

Mas de nada adianta
O esforço desmedido.
Se o leitor ao ler não busca
Pelo prazer escondido.


VIII

Diz o célebre ditado:
O aluno quando pronto,
Esteja onde estiver,
Vai o mestre ao seu encontro.


Eu 'inda espero o meu
E ele pode demorar...
Enquanto ele não vem
Aproveito p'ra treinar!

Ao unir os elementos
Encerro esta canção.
O todo se fez presente
Em cada composição!



20/09/2011

4 comentários:

  1. Adorei!
    Obrigada!
    Queria responder-lhe em versos, sabe? Mas ainda não estão prontos... O tempo da poesia é outro...

    Há tanto a se dizer
    o poema não vai caber
    espere o porvir
    há brotos, a florir

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  2. Relendo seu poema, releio o meu. Relendo o meu poema, vejo o quanto estava enganada: não consegui fazer brotos florescerem, como desejava. O poema até vai sair, já está pronto,mas não chega aos pés da discussão que você faz aqui. Minha opção pelo modernismo, se é que eu posso dizer isso, é muito mais conjuntural do que ideológica. E o poema é isso: um pouco de emoção, um pouco de brincadeira com as palavras, nenhuma regra a ser seguida. É pura contradição! Abraços!

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  3. E eu sei que você tem explicação para tudo hahaha. Por isso nem vou falar da métrica. Mas o que você diz no poema faz muito sentido. Por isso estou pensando em postar um poema com versos livres para agradar o outro público rsrs.

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    Respostas
    1. A questão não é ter explicação para tudo, mas deixar a explicação no próprio poema:

      No canto IV você encontra:

      "A cria pode ser livre
      Ou mesmo metrificada.
      Quem escolhe é você
      Durante a empreitada."

      e no canto VII:

      "O básico já foi dito,
      Até exemplificado!
      Cabe agora ao leitor
      Buscar o significado."

      Acredito que você possa ter encontrado x versos que não são de 7 sílabas... Mas... "o básico já foi dito, até exemplificado!"

      E finalizando no último canto:

      "Ao unir os elementos
      Encerro esta canção.
      O todo se fez presente
      Em cada composição."

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